domingo, 27 de setembro de 2015

VIII

Não foram macios os dias de meu cárcere.
Fulminava-me a alma a obtenção dum amor,
Sendo que a mim me cabia o dolor,
E nada havia que não dilacerasse-me.

Recorrendo aos augúrios de Febo ou Ártemis
E ao Satúrnio troante a nós protetor,
Consultei astros, e sábio de indispor
Momentos raros contrários ao mártire.

O Crônida instruíra-me a fé na regência.
Seu divo pai cerceou-me os maus prazeres
Pra que eu na luta empossase afazeres.

Amor se avançava da penitência
Na afáveo honraria aos olímpios por Ceres
No anseio aos afáveis solares dizeres.

27/09/15 - 23:13

sábado, 12 de setembro de 2015

VII

Só de vos ver perco a fala, Senho...
A prudência, a compostura, a firme...
Ai! Como a solidão, dor, a triste...
Fogem do coração e vão-se embo...

Mas palavras nada encerram nesta ho...
Dos verbos todos prefiro a simple...
Dos sons confusos da boca a limpe...
Do quedo olhar que o Momento melho...

Esperar vosso Amor vão me pare...
Cortejar-vos com versos persuasi...
Não vos comprazeis, e tornai-me evasi...

Gesto e risos com que não me apete...
Calo-me ante vós sendo incisi...
Lamentar intento tão conclusi...

-

12/09/15 - um ano, acabei hoje este esboço antigo.

27/07/20 - lendo Cervantes, aprendi que esse verso é uma décima de "cabo roto".

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

VI

Andou viva e pura em meu pensamento
Amada flor, na vida germinada,
E percorria no tempo encarnada
Onde é vago e fugaz o sentimento.

Quando a via vivia perfumada
Em tocá-la sempre está florescida.
Enquanto florescer tão bem luzida
Não haverá lira mais bem versada.

Mas outrora onde enfrentava as tormentas
Para tal Musa, e a toda ela voltado,
Já não mais sinto o perfume exalado.

Se todo o tempo já não mais sustenta
Esta diva flor, que murcha tem estado,
Já penso meu mundo, morto e acabado.

-

28/07/10 - primeiro soneto