sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

XVII

chuva longínqua lavou-me a cabeça
fez dos meus olhos escorrer um pranto
enquanto da boca cessava o canto
e a água agridoce tornava-se espessa

que aos ombros a cruz maior me pareça
no peito o vigor não era pra tanto
chorar sem pudor como fez o santo
só faz com que o plexo sofra, padeça

a lágrima gela ao correr a paixão
e ao gelo das dores derrete e inunda
formam-se ilhas com os flancos ao chão

a água incontida no barro se afunda
tangendo as juntas de um velho caixão
corria aos meus pés emoção tão profunda

13/12/2019

sincronia

domingo, 1 de dezembro de 2019

XVI

peito que vaga na busca de amar,
vaga ondulante rebenta na trilha,
límpido pranto que a vejo tomar
larga no rosto um passado que brilha

traz um cigarro que insiste em fumar
sendo da noite legítima filha,
onipresente como fora o mar,
prefere silente assentar numa ilha

o tinto que entorna confunde as águas
e o sopro vital lhe saiu co'a fumaça
enquanto se acerca ao encalço uma traça

quando o notar andará sobre as mágoas
que algo mais puro reside na Taça
e aquele Amor surgirá como Graça

01/12/2019