sábado, 27 de abril de 2024

XXXVI

Vou-me do mundo dos meus olhos farto

Pois tudo quanto com meus olhos vejo

Agravos mostram, não do meu desejo,

Pois o contenho no antro de meu quarto


Aqui folguedos, lá frescores partos

Montoados de desordens vão sem pejo

Anunciações de tempos malfazejos

Espraiam-se por onde a mim me descarto


Os Elísios os tenho em meu recesso

Ora templo, então escola, teatro e arte

Mel, vinho e azeite e leite se aparelham


Tartáreo o mundo que lá fora esqueço

Geme e grita lembrando minha parte

Mais à morte esta vida se assemelha


27/04/2024

sábado, 20 de abril de 2024

Via Crúcis

Sentença vêm da mão condenadora,

Que açoita e ordena o trasladar do lenho.

Cadente em via, do pesado engenho,

O Filho via sua Mãe sofreguidora.


Do cirenaico ao ombro esgotado escora,

E as fauces deixa num pano, o Desenho,

E de novo caía em seu sozinho empenho,

Dizendo às damas paz consoladora.


Memorando auxílio, embora inda caísse,

E os guardas vinham despojá-lo as vestes,

Atando ao madeiro Mãos e Pés com pregos.


Morre do fel, embora água pedisse.

Assim descem-no da cruz, deixando Este

Sepultado em penha, meu Deus jazego.


20/04/2024