chuva longínqua lavou-me a cabeça
fez dos meus olhos escorrer um pranto
enquanto da boca cessava o canto
e a água agridoce tornava-se espessa
que aos ombros a cruz maior me pareça
no peito o vigor não era pra tanto
chorar sem pudor como fez o santo
só faz com que o plexo sofra, padeça
a lágrima gela ao correr a paixão
e ao gelo das dores derrete e inunda
formam-se ilhas com os flancos ao chão
a água incontida no barro se afunda
tangendo as juntas de um velho caixão
corria aos meus pés emoção tão profunda
13/12/2019
sincronia
sexta-feira, 13 de dezembro de 2019
domingo, 1 de dezembro de 2019
XVI
peito que vaga na busca de amar,
vaga ondulante rebenta na trilha,
límpido pranto que a vejo tomar
larga no rosto um passado que brilha
traz um cigarro que insiste em fumar
sendo da noite legítima filha,
onipresente como fora o mar,
prefere silente assentar numa ilha
o tinto que entorna confunde as águas
e o sopro vital lhe saiu co'a fumaça
enquanto se acerca ao encalço uma traça
quando o notar andará sobre as mágoas
que algo mais puro reside na Taça
e aquele Amor surgirá como Graça
01/12/2019
vaga ondulante rebenta na trilha,
límpido pranto que a vejo tomar
larga no rosto um passado que brilha
traz um cigarro que insiste em fumar
sendo da noite legítima filha,
onipresente como fora o mar,
prefere silente assentar numa ilha
o tinto que entorna confunde as águas
e o sopro vital lhe saiu co'a fumaça
enquanto se acerca ao encalço uma traça
quando o notar andará sobre as mágoas
que algo mais puro reside na Taça
e aquele Amor surgirá como Graça
01/12/2019
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
XV
inda que a minha mão a tua não toca
meus olhos contra os teus unem-se em prol
mesmo que o afago contido não trocas
sentidos puros se alternam num rol
reténs-te segura ao mar numa doca
embora me foras casto farol
castras o amor que num cais vasto estoca
num dia qualquer tu lhe inflamas o paiol
versos que prezas de um velho os já li
lembram de um tempo se queres que opine
de sangue e chagas que ao bem não define
se queres razões não busque-as ali
libertes tu'alma e não mais a confines
fazendo que o amor assim descortine
22/11/2019
meus olhos contra os teus unem-se em prol
mesmo que o afago contido não trocas
sentidos puros se alternam num rol
reténs-te segura ao mar numa doca
embora me foras casto farol
castras o amor que num cais vasto estoca
num dia qualquer tu lhe inflamas o paiol
versos que prezas de um velho os já li
lembram de um tempo se queres que opine
de sangue e chagas que ao bem não define
se queres razões não busque-as ali
libertes tu'alma e não mais a confines
fazendo que o amor assim descortine
22/11/2019
XIV
soubeste da nova melodia feita?
arrancara gorjeios da passarada
que se punha à janela n'alvorada
da alcova de onde longe a noite deita
meu leito este longo vazio rejeita
nem deixa que as penas jazam paradas
levo-as à tinta e percorro as beiradas
da nota com versos que a ausência aceitam
quando partiste pensavas que tinhas
levado contigo o ardor dos caminhos
e o aroma das rosas, deixado o espinho?
lembravas que ouvi o segredo das vinhas
e é no que medito ao levar-me ao pinho
do corpo de Sol bebido no vinho?
22/11/2019
arrancara gorjeios da passarada
que se punha à janela n'alvorada
da alcova de onde longe a noite deita
meu leito este longo vazio rejeita
nem deixa que as penas jazam paradas
levo-as à tinta e percorro as beiradas
da nota com versos que a ausência aceitam
quando partiste pensavas que tinhas
levado contigo o ardor dos caminhos
e o aroma das rosas, deixado o espinho?
lembravas que ouvi o segredo das vinhas
e é no que medito ao levar-me ao pinho
do corpo de Sol bebido no vinho?
22/11/2019
quarta-feira, 4 de setembro de 2019
XIII
acercai-vos à janela e escutais
como o solfejo dos ares irrompe,
ouvi o marchar das falanges brutais
o quanto o ordinário andar interrompe
os que julgam livres, libertos, tais
ignoram ao são e de máculas rompem,
vede que os males e o pó que ajuntais
estorvam aos dias e ao mundo corrompem
pena certeira por vós faz-se justa,
submete a todos e ao fim precipita,
sem ver proveito de no mal proceder
de livres ao julgo os sábios se ajustam,
por norma fazem que o bem se repita,
nesta única senda de vivo ascender
-
04/09/2019
como o solfejo dos ares irrompe,
ouvi o marchar das falanges brutais
o quanto o ordinário andar interrompe
os que julgam livres, libertos, tais
ignoram ao são e de máculas rompem,
vede que os males e o pó que ajuntais
estorvam aos dias e ao mundo corrompem
pena certeira por vós faz-se justa,
submete a todos e ao fim precipita,
sem ver proveito de no mal proceder
de livres ao julgo os sábios se ajustam,
por norma fazem que o bem se repita,
nesta única senda de vivo ascender
-
04/09/2019
sexta-feira, 1 de março de 2019
XII
amores que passam qual breve aceno
prenderam em garras o tolo odisseu
dez anos pranteava ungido em venenos
por amores vis que blasfemam de Deus
de cego não viu os afagos pequenos
e um mórbido beijo lhe convenceu
soube do engano pois versos obscenos
de outros poetas seriam que não dos seus
busca o guerreiro deixar a desdita
e ruma prum mar repleto de ameaças:
de feitiços dóceis e falsos amores
nem pôde esperança encontrar em ítaca
querendo da maga a velha mordaça
que ora prezava por outros senhores
-
25/02/2019
sábado, 5 de janeiro de 2019
XI
trilhas de prantos nutriram jardins
nos quais findavam caminhos opostos.
como um felino de pele cardim
a um novo amanhã mostravam-se a postos.
se o divo da aljava expedia dardins,
olhos dos imos não tinham transpostos.
se dentro ecoava através de clarins,
igual tamborins lhes seriam dispostos.
eu declinava e não pude me dar,
sem ter firme chão desde um desamor.
restou em meu medo o certeiro falhar.
ela silente não soube quedar
e suas defesas assim desarmou,
e o novo amanhã fez num beijo raiar
05/01/2019
nos quais findavam caminhos opostos.
como um felino de pele cardim
a um novo amanhã mostravam-se a postos.
se o divo da aljava expedia dardins,
olhos dos imos não tinham transpostos.
se dentro ecoava através de clarins,
igual tamborins lhes seriam dispostos.
eu declinava e não pude me dar,
sem ter firme chão desde um desamor.
restou em meu medo o certeiro falhar.
ela silente não soube quedar
e suas defesas assim desarmou,
e o novo amanhã fez num beijo raiar
05/01/2019
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